sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Os benefícios de uma saída efetiva na natação competitiva não podem ser subestimados

Treinar saídas do bloco exaustivamente pode ser muito chato. No entanto, ter a técnica apurada deste fundamento, imprescindível na Natação competitiva, é um enorme passo para se ter um ganho de eficiência em até 30% - dependendo da prova nadada. Assim afirmam e demonstram os americanos Scott Riewald (PHd) e Scott Rodeo (Md) no livro "Science of Swimming Faster" (2015).
 
Os benefícios de uma saída efetiva na natação competitiva não podem ser subestimados. A evidência de análises de provas realizadas em grandes competições internacionais demonstra correlações significativas entre tempos de saídas mais rápidos e tempos de prova (a partir do início do nado) (COSSOR; MASON, 2001; MASON; ALCOCK; FOWLIE, 2007). O início de prova produz a velocidade mais rápida que um nadador conseguirá durante toda a distância percorrida. Ao considerar que o início de prova são os primeiros 15 metros, este representa uma proporção considerável de toda a distância, especialmente em provas de velocidade, como os 50m e 100m como mostra o gráfico a seguir:


Considere estes exemplos de como os primeiros 15 metros iniciais podem afetar o desempenho:

. Uma revisão dos resultados da natação olímpica de 1972 a 2004 mostrou que uma melhoria de 0,1 segundo no tempo, uma diferença que realisticamente pode ser alcançada com um melhor início de prova, resultaria em 65 medalhas mudando de mãos em provas de velocidade (HOOF, 2007). Mais recentemente, nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, as duas principais competidoras nas provas de velocidade (50m e 100m) femininos foram tipicamente separadas por menos de um por cento (1%) (SLAWSON, 2010).

. Uma análise da final dos 100m Borboleta Masculino, nas Olimpíadas de Atlanta (1996), mostrou que o eventual medalhista de prata foi 0,4 segundos mais lento a 15 metros do que o vencedor, mas seu tempo final foi apenas 0,28 segundos mais lento (SCHNABEL; KUCHLER, 1998).

Tipos de saída

A captura do bloco e o posicionamento do corpo no mesmo; E o início da prova, com as variações em que o peso corporal está posicionado para frente ou para trás, são as técnicas mais utilizadas. As principais diferenças estão entre como os pés são colocados no bloco e como o peso corporal do atleta é distribuído em relação à base do suporte. A técnica empregada por um determinado nadador é selecionada em parte com base na preferência pessoal, mas o design do bloco de partida também pode ter influência (PEARSON et al., 1998).

A FINA exige que os blocos sejam construídos com 0 a 10 graus de altura e uma altura entre 0,5 e 0,75 metros acima da água. Assim, o nadador pode encontrar variabilidade considerável em uma competição. Além disso, A FINA aprovou recentemente o bloco de partida Omega OSB11 para uso em competições internacionais, o que pode alterar consideravelmente a técnica de saída ideal.

A captura (agarre)

O começo de agarrar é semelhante a um salto de duas pernas. Para começar, o nadador coloca os pés a cerca de 0,15 a 0,30 metros de distância (paralelos) e enrola os dedos do pé sobre a borda frontal do bloco. As mãos compreendem a borda frontal do bloco, dentro ou fora dos pés. Nesta posição, o centro de gravidade do atleta (CG) está em uma posição de estabilidade dinâmica, posicionado o mais para frente possível, na base de suporte, para permitir um rápido movimento para a frente. 

Os braços são cruciais no desenvolvimento do impulso avançado inicial à medida que exercem uma força contra o bloco. Ambos os braços, então, balançam diretamente para a extremidade da piscina enquanto as duas pernas movimentam poderosamente e simultaneamente fora do bloco (HOUEL et al., 2010). Kruger et al. (2003) mostram que os extensores do joelho e do quadril são os principais contribuintes para as forças de decolagem geradas pelas pernas no momento da saída.

Implicações do calço nos blocos

A partir de 2008, o calço nos blocos de partida (aquele suporte traseiro onde o atleta pode apoiar uma das pernas, semelhante ao posicionamento de saída em provas de atletismo) foi aprovado pela FINA, tornando o desenvolvimento e aprimoramento das saídas ainda mais fascinante e eficiente. A placa (suporte, calço) permite que os nadadores se posicionem no bloco iniciando um princípio de agachamento e a perna traseira alcance um ângulo de joelho de 90 graus; Além disso, esta mesma perna traseira é a que - em tese - produz mais força e gere velocidades horizontais mais elevadas, se comparadas com as que podem ser desenvolvidas em saídas com os pés paralelos. Entretanto, pesquisas adicionais são necessárias para determinar se a perna dominante do nadador seria melhor posicionada na parte dianteira ou traseira do bloco com esta nova configuração.

Vários estudos sugerem que a nova configuração dos blocos podem afetar o desempenho inicial. Honda et al. (2010) indica que as saídas utilizando o calço, quando comparadas em blocos tradicionais, há um ganho nos primeiros cinco metros de prova; Além do aumento na força de impulsão e na velocidade de decolagem horizontal. Em um estudo separado, os pesquisadores descobriram que, em um bloco instrumentado personalizado, uma inclinação traseira (de 36 graus para a horizontal) levou a um aumento de menos de 2% na velocidade horizontal e a uma queda de 3% no tempo para seis metros quando comparado com a plataforma de início tradicional (VINT et al., 2009). Este mesmo estudo relatou benefícios mais significativos do uso de alças no lado do bloco em comparação com o calço.

Força características de desenvolvimento

À medida que um nadador empurra o bloco, a força é gerada e aplicada contra o bloco de partida, que por sua vez empurra para trás contra o nadador de acordo com a terceira Lei de Newton: "Para cada ação, há uma reação igual e oposta". A força aplicada pode ser dividida em componentes verticais, horizontais (antero-posteriores) e laterais (lado a lado) e produzir a velocidade de decolagem. A aplicação de força para baixo nos blocos acelera o corpo verticalmente (altura aumentada), e o componente da força diretamente para trás gera propulsão na direção para a frente. Qualquer força lateral é essencialmente desperdiçada e deve ser minimizada. No início da prova, no entanto, alguma força lateral é inevitável porque as pernas contribuem para forçar a geração em diferentes momentos (BENJANUVATRA et al., 2004).

A forma como os três componentes da força são gerados dita a velocidade de decolagem (partida) do nadador e o momento resultante que o mesmo carrega através do ar. A interação das forças horizontal e vertical também determina o ângulo em que o CG do nadador deixa o bloco. Gerar mais força vertical torna o ângulo de decolagem mais íngreme; Se um nadador gera mais força horizontal, o ângulo de decolagem será mais liso. Outras informações que podem ser derivadas dos perfis de força incluem o tempo de reação, definido como o tempo desde o sinal de partida até o primeiro movimento.

Perfis de desenvolvimento de força

Alguns pesquisadores examinaram a forma como a força é desenvolvida para os diferentes tipos de saída (ARELLANO et al., 2000; KRUGER et al., 2003; VILAS-BOAS et al., 2003; BENJANUVATRA et al., 2004; HONDA et al., 2010).

 Perfis de força verticais e horizontais totais para o posicionamento e 
 captura do bloco (A e B) e saída (C e D). Para o início da prova : (R) 
 marca o primeiro pico correspondente à propulsão do pé traseiro e 
(F) marca o pico correspondente à propulsão do pé dianteiro.

Perfis de força dos pés traseiro e dianteiro: (A) Vertical e (B) Horizontal

Embora o movimento inicial dos nadadores seja semelhante tanto para o impulso do bloco quanto para o início da prova, podem ser identificadas diferenças sutis das curvas força/tempo. No início da pegada, este esforço é aplicado principalmente na direção vertical, refletindo a ação dos braços que puxam o corpo para o bloco de partida (representado pela primeira elevação das curvas de força vertical, região 1 na primeira figura (A e B). Por outro lado, a ação do braço no início da prova parece gerar impulso nas direções horizontal e vertical (região 1 na segunda figura C e D).

Na direção horizontal, o início da pegada caracteriza-se pelo desenvolvimento gradual da força, atingindo um pico logo antes do nadador deixar o bloco. Em contraste, a força horizontal para o início da prova se desenvolve mais cedo e é seguida por dois picos separados. O primeiro pico corresponde ao impulso do pé traseiro (R) e o segundo pico corresponde ao impulso do pé dianteiro (F) (primeira figura). A ação do braço agressivo e uma forte movimentação da perna traseira são usadas para gerar força e impulso avançado na parte inicial do mergulho, mas a perna frontal normalmente gera a maior força de propulsão em um bloco de partida tradicional (segunda figura).

A maior contribuição da perna da frente é provável devido à posição para a frente do CG do nadador na decolagem. A força vertical maior é desenvolvida pela perna da frente no primeiro momento, e ambas as pernas contribuem consideravelmente durante a sequência de início da prova. Embora Honda et al. (2010) e Vint et al. (2009) tivessem medido a força horizontal total usando um calço em comparação com blocos tradicionais, nenhum grupo de pesquisadores até o momento chegou à conclusão sobre a contribuição relativa do posicionamento dos pés (um a frente outro atrás).

Referências

Benjanuvatra N, Dawson G, Blanksby BA, Elliott BC. Comparison of buoyancy, passive and net active drag forces between FastskinTM and standard swimsuits. J Sci Med Sport. 2002; 5(2): 115-123. 

Cossor J., Mason B. (2001). Swim start performances at the Sydney 2000 Olympic Games. XIXth International Symposium on Biomechanics in Sports, San Francisco: 70-74

Mason B., Alcock A., Fowlie J. (2006) A kinetic analysis and recommendations for elite swimmers performing the sprint start. Medicine and Science in Swimming X 46(1998), 192-195

Riewald, S.; Rodeo, S. Dive starts: Science of Swimming Faster. 2015.

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